Naquela manhã acordámos mais cedo e decidimos dar um passeio pela zona circundante ao nosso acampamento. Apesar de sabermos que era tempo dizer adeus àquele parque precisávamos de olhá-lo uma última vez, sozinhos. À espreita, apreciámos como a luz dos raios de sol iluminava as imponentes Torres del Paine e nisto o Viajante Ilustrador começou a trautear uma canção de Xavier Rudd, Follow the sun, que tão bem resume as lições aprendidas naquelas montanhas patagónicas chilenas…
Despedidas feitas, seguimos para o Lago Grey. Durante o caminho, Jorge explicava ao Viajante Ilustrador um dos rituais de confraternização mais populares da Argentina e seus países vizinhos. Mate é o nome dado à infusão preparada com as folhas de erva-mate, uma planta nativa da floresta subtropical da América do Sul. O mate bebe-se quente através de um canudo de metal (bombilla) num recipiente denominado de calabaza, embora haja uma versão com água fria e nesse caso chama-se Tereré. Era quase ancestral observar Jorge a despejar a água da garrafa térmica na calabaza. Em verdade, existem regras no que respeita ao mate como quem o prepara tem direito a beber primeiro e decide a ordem pela qual oferece aos demais, estabelecendo-se assim um ciclo de partilha. Jorge foi o primeiro a esvaziar o pequeno recipiente de couro e metal, passando em seguida para o Viajante Ilustrador. Quando compartilhado, deve-se beber todo o conteúdo antes de passar a vez e assim foi, até que lá me coube a sorte de poder desfrutar de um pouco do chá que se formou com o contato da água quente com as folhas trituradas e depositadas no fundo do copo. Embora esta bebida comunitária fosse um costume do litoral norte e região dos pampas, onde habitava o povo Guarani, a verdade é que se disseminou por todo o território, chegando, inclusive, aos confins frígidos de Ushuaia. Coube aos indígenas ensinar este ritual aos jesuítas, realidade que permitiu as primeiras plantações da planta, transformando-a também num hábito de consumo pelos colonos que ali se instalaram, mantendo-se até aos dias de hoje. Na Argentina tudo começa com o mate, ou não fosse um costume que permite uma pausa, que gera e fortalece amizades, que iguala classes sociais, debelando preconceitos e barreiras.
Chegados ao Lago Grey, assim chamado devido à sua cor, a caminhada começou com a travessia de uma ponte de madeira por cima do rio Pingo, dando acesso a uma vegetação mais intensa até que apareceu um extenso areal cinzento. Ali a única dificuldade foi o forte vento que se fez sentir, que quase parecíamos franzinas folhas de papel a esvoaçar pelo ar. O lago surge com os seus icebergues de cor azulada a flutuar nas águas serenas e escuras, com uma cordilheira de montanhas que coroa os glaciares Grey e Tyndall. O percurso termina junto a uma elevação com o miradouro para o Lago e Glaciar Grey.
Dali voltamos a atravessar o Lago Pehoe e dirigimo-nos para Puerto Natales, uma cidade pitoresca situada a 250 quilómetros de Punta Arenas e capital da província chilena Ultima Esperanza, assim apelidada por o explorador espanhol Juan Ladrilleros ter afirmado que esta era a sua última esperança de encontrar o Estreito de Magalhães. O final do dia aproximava-se e Jorge havia dito que o pôr-do-sol nesta região era lindo, ou não criasse uma espécie de tela colorida no céu. E assim, decidimos seguir o sol…
Follow, follow the sun / And which way the wind blows / When this day is done / Breathe, breathe in the air / Set your intentions / Dream with care /Tomorrow’s a new day for everyone / A brand new moon and brand new sun
[…]
When you feel life coming down on you like a heavy weight / When you feel this crazy society adding to the strain / Take a stroll to the nearest water’s edge, remember your place / Many moons have risen and fallen long, long before you came / So which way is the wind blowing
What does your heart say