Se antes já nos havíamos ocupado do fruto do cacau, na presente alvorada fomos presenteados com uma tentação. Na costa norte da ilha de Príncipe, esta assume o nome de Bom Bom Island Resort. Integrado em plena floresta tropical, entre colinas e praias paradisíacas, numa área designada pela UNESCO como Reserva Mundial da Biosfera, este projeto celebra o equilíbrio entre a presença humana e o meio natural. A par de investimentos financeiros e de formação profissional na área do turismo sustentável, em particular na gestão e utilização da água, energia e resíduos, este promove também atividades como trilhos pedestres, excursões para a observação de aves e baleias, bem como passeios de canoa com pescadores locais. Aqui o tempo é dedicado ao inalienável direito ao prazer, ou não fosse fácil encantarmo-nos com o seu firmamento, assim como com as suas profundezas, onde a prática de snorkelling torna-se obrigatória para a descoberta ora de peixes exóticos, ora para a contemplação daquele colossal manto azul. Desejo de felicidade absoluta, versada em planos de liberdade sem freios, foi por nós ali cobiçada, à semelhança de Ícaro, que, imprudentemente, voou alto de mais e ao quase tocar o sol perdeu as suas asas de penas e cera. Liberdade, coisa traiçoeira e impiedosa, esta!
Mas como diria Santo Agostinho, “Não há lugar para a sabedoria onde não há paciência”, pelo que, celebrada a natureza, rumamos à cultura local, cumprindo com a Rota dos 4 Sabores, que incluiu a visita à Roça Paciência, onde produtos como o café, o cacau, a pimenta e a baunilha são dignificados. Perto das roças Belo Monte e Praia Inhame e outrora propriedade do Dr. Cupertino d’Andrade, hoje é um projeto de turismo integrado na agricultura, sujeita a um notável trabalho de restauro, funcionando como ainda escola de pedreiros. Um laboratório vivo de investigação e transformação de matérias-primas, representativas do universo de paladares e aromas da terra. Ainda, neste local de traça humilde e despojada, é impossível resistir à sua variedade de produtos de fabrico artesanal, desde as deliciosas compotas de cajá manga, sape sape, maracujá e ananás e creme de cacau, à maravilhosa mistura de muesli tropical.
E porque nem só de alimento vive o Homem, conseguimos umas motas e acompanhados de Yorick, aceleramos até à Roça Trindade e desta seguimos até ao trilho do emblemático Pico do Papagaio, o mais concorrido pelos amantes de trekking por ser o que mais perto fica da cidade de Santo António e por se conseguir concluir no espaço de apenas meio-dia. Conquanto, foi ainda feita uma breve paragem, a fim de encontrar bom vinho de palma. Ou não fosse inevitável naquela ilha cruzarmo-nos com vinhateiros a cumprimentar-nos do cimo das palmeiras. Estes sobem a estas plantas, usando uns arames grossos que dão a volta ao tronco e prendem nos pés, para martelar a base das folhas, e lá espetar um garrafão que se encherá lentamente durante a noite. Depois basta esvaziá-lo para outro maior, filtrar a mistela com um funil e deixar fermentar um pouco.
“E eis que surge o vinho de palma, uma bebida muitíssimo apreciada, ou não fosse vendida pela módica quantia de 5000 dobras (o que dará talvez uns 0,20€?!) por caneca.”
De cor leitosa, embora o sabor seja estranho, não é nada mau, como que se de fruta se tratasse, mas menos doce, e a quantidade de álcool é fraquinha.
Desvios feitos, avançamos, finalmente, para o Pico do Papagaio, a 680 metros de altitude, circundado pelo Parque Natural de Obô. Em amena cavaqueira, onde já se faziam planos notívagos de um jantarito na Rosita (Associação Cultural e Recreativa Rosa Pão) e uns copos no Mira Rio, tivemos o privilégio de observar macacos, pássaros endémicos e diversas plantas medicinais, sempre na expetativa de chegar ao cume e do seu alto ver a cidade mais pequena do mundo…
“Entretanto, as palavras sumiram-se. Que me restou? Uma dança de vitória!”
“I take it in, but don’t look down…/
Cause I’m on top of the world, hey/
I’m on top of the world, hey”
(On Top Of The World, Imagine Dragons).